sábado, 19 de abril de 2008

Lembrar 2 = Cancioneiro do Niassa

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  • Ó PÁTRIA MINHA

    Minha Pátria, minha paixão,
    sei que horas amargas virão
    longe do tempo presente
    com espaços vagos e ideias ignotas
    acções audazes inevitáveis
    nas límpidas forças do coração
    aqui espalhadas nestas palhotas
    onde os corpos com feridas irreparáveis
    ao criador estendem a mão
    em luta contra o tempo da desonra.

    Ao sabor das virtudes ainda vivas
    vou cavalgando sobre as savanas
    sem piedade pela pátria moribunda
    onde um dia sabujos escribas
    dirão que estas atribulações insanas
    foram causadas pela tropa imunda.

    As caminhadas dos invisíveis corcéis
    de rostos com lágrimas furtivas
    ficarão para sempre gravadas
    nas irresponsáveis decisões dos coronéis
    que urdiram as logísticas esquivas
    e atiraram os soldados às emboscadas.

    Ó pátria minha, do coração,
    por ti, sinto a fúria da poeira
    que me tolhe o corpo cansado,
    tento fazer valer a minha razão
    reclamando o fim da fogueira
    até que o tormento seja extirpado.

    Mueda, Agosto de 1967



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